sexta-feira, 2 de março de 2012

Pernambuco registra primeiro bebê in vitro filho de casal gay

Maria Tereza já completou um mês e tem o nome
dos dois pais na certidão. Mailton e Wilson
Albuquerque mantêm um relacionamento há 15
anos.

Quando Maria Tereza veio ao mundo, no último dia
29 de janeiro, assim como quase todos os recém-
nascidos, chorava muito, descontroladamente. As
lágrimas da mais nova pernambucana só pararam de
descer quando ela chegou aos braços de seus dois
pais, Mailton Alves Albuquerque, de 35 anos, e Wilson Alves Albuquerque, de 40. Fruto de uma
relação de 15 anos, a pequena foi o primeiro bebê
brasileiro registrado pela Justiça filho de um casal
homoafetivo masculino e concebido através de
fertilização in vitro. A decisão de Mailton e Wilson de terem um herdeiro
aconteceu há dez anos, quando estabeleceram uma
união estável. Na época, uma resolução do Conselho
Federal de Medicina (CFM), que estava em vigor
desde 1992, decidia que os usuários da técnica de
fertilização deveriam ser mulheres em união estável ou casadas. Em 2010, Mailton fez um intercâmbio no
Canadá, onde conheceu outro casal gay que já tinha
três filhos, concebidos através da técnica. Bastante
interessado pela ideia, em janeiro de 2011 ele teve a
notícia que esperava há muito tempo: o CFM mudara
a resolução, decidindo que todas as pessoas capazes poderiam utilizar a técnica. Segundo o juiz Clicério Bezerra, que possibilitou que
a certidão de Maria Tereza tivesse o nome dos dois
pais, esse caso é inédito e abre as portas para outros
casais. “Eu tenho conhecimento, pela internet, que
houve um caso de duas mulheres, fruto de um
processo judicial. Nesse caso, é inédito porque são dois homens e foi feito administrativamente,
diretamente no cartório, não necessitou de um
processo judicial”, contou Bezerra. Para Mailton, a decisão não aconteceu de uma hora
para a outra. “Não foi algo de momento. Isso é fruto
de uma relação que vem amadurecendo há 15 anos,
com muito companheirismo. A gente está mostrando
que a família pode ser muito mais do que um casal
hetero. Que pode haver pai e pai e mãe e mãe também. Conquistamos o respeito através de tudo
que construímos juntos”, falou. No mesmo mês em que a resolução permitiu a
fertilização, os dois procuraram uma clínica no Recife
e começaram a fazer os exames. Todas as mulheres
da família, entre irmãs e primas de Mailton e Wilson,
se prontificaram a ajudá-los. Depois dos testes, ficou
decidido que uma prima de Mailton iria emprestar o útero para gerar a filha do casal. A família aprovou a
iniciativa. “Hoje, Maria Tereza tem avó, avô, tias tios,
todo mundo babando por ela. Nunca passamos por
preconceito dentro de casa”, contou Mailton. Os dois doaram espermatozóides para serem
utilizados em óvulos de um banco de doadoras.
Dessa primeira vez, foi utilizado um óvulo fecundado
por Mailton. Os dois já pretendem, em breve,
providenciar o segundo filho. “Próximo ano, nós já
vamos ter um garotinho, que vai ser o irmãozinho dela”, falou Wilson, que, desta vez, deve doar o
material genético. Juntos, querem repetir a emoção
do nascimento de Maria Tereza mais uma vez,
descrita pelo pai emocionado: “Foi indescritível, não
tem como explicar. Quando ela parou de chorar foi
como se dissesse: ‘papais, agora estou segura’”, falou Mailton.

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