quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Desemprego ainda é maior entre os negros no Grande Recife

Pesquisa revela que taxas de desemprego caíram de 19,2% para 16,2% 'Para cada 100 pessoas desempregadas, 75 são negras', diz Dieese.


As taxas de desemprego caíram entre os anos de 2009 e 2010, saindo de 19,2% para 16,2%, mas a população negra e parda do Grande Recife, independente de sexo ou idade, aparece como maioria dos desempregados. Os dados são da Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana do Recife (RMR), realizada pela Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condepe/Fidem) em parceria com o Departamento Intersidical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), sobre a inserção dos negros no mercado de trabalho da RMR.
A taxa total para negros, aspecto que inclui também os pardos, caiu de 20,4% para 17,5%, enquanto os de não-negros, ou seja, brancos e amarelos, foi de 15,7% para 13,2%, constatando uma redução entre a diferença nos índices. "Esse é um recorte essencial para percebermos as desigualdades e buscarmos soluções", acredita Jackeline Natal, supervisora do escritório regional de Pernambuco do Dieese.
Entretanto, apesar da redução, os negros ainda são maioria, ressalta o coordenador do Dieese, Jairo Santiago. "Para cada 100 pessoas desempregadas, 75 são negras", explica, contrapondo com os dados da População Economicamente Ativa, onde de cada 100, aproximadamente 70 são negros. "E uma em cada cinco mulheres negras são empregadas domésticas", acrescenta o diretor de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas do Condepe/Fidem, Rodolfo Guimarães.

A professora Maria Helena Silva, que trabalha em uma escola pública na Ilha do Leite, região central do Recife, conta que a maioria dos seus alunos na sala de aula, de educação para jovens e adultos, são mulheres e negras, que trabalham como domésticas. "A primeira luta é pela escolaridade, da básica a universitária. Já melhorou, mas ainda é difícil", acredita Maria Helena, que reafirma perceber a diferença ao acesso ao mercado de trabalho para negros.
A desigualdade entre a renda média dos negros e não-negros cresceu no período avaliado, um reflexo do modo de inserção no mercado de trabalho. Em 2009, o rendimento médio dos não-negros era 43,9% superior ao dos negros, subindo no ano seguinte para 45%. Em valores,  R$ 1.193 para não-negros e R$ 823 para negros. "Os benefícios não são distribuidos de forma equitativas. Negros e pardos vem sendo menos beneficiados pelos avanços", afirma Jairo Santiago, coordeador do Dieese.

A pesquisa averiguou também que os negros são minoria no setor público. Bancária há 25 anos, Eleonora Costa da Silva trabalha em um banco que foi privatizado e entrou por concurso público. "Quando eu entrei, era uma das poucas negras. Se fosse por aparência, eu não teria entrado. Até hoje se pede foto em currículo, por que se avalia a aparência", diz Eleonora. "Nesses anos, mudou pouca coisa. O que tem agora é a preocupação com a inclusão do deficiente", acrescenta.
Os negros representam parcelas maiores que os não-negros entre os autônomos, na construção civil e nos serviços domésticos. "A população negra é maioria em trabalhos mais precários, que pagam menores salários, como empregos sem carteira de trabalho assinada, trabalho autônomo e empregados domésticos", destaca Santiago. "O setor de construção civil e o comércio é onde temos as maiores taxas de informalidade".
No setor que apresenta o maior indíce de formalidade, a Indústria de Transformação, os negros e não-negros têm representatividade parecida, mas há uma distinção nítida em relação ao salário, segundo Santiago. A renda dos não-negros neste setor é de R$ 1.282, enquanto a dos negros é de R$860, uma diferença de 49,1% . "Essa renda é reflexo do acesso ao mercado de trabalho, como essa pessoa se insere", explica Guimarães.
A Região Metropolitana do Recife é a terceira do país em presença de negros e pardos. Para a realização da pesquisa, foram visitados 60 mil domicílios nos últimos dois anos e ouvidas quase 40 mil pessoas.


Katherine Coutinho Do G1 PE

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